O cinema brasileiro segue em alta, logo após o Oscar conquistado por Ainda Estou Aqui. Desta vez, quem brilhou na telona, como sempre, foi Fernanda Montenegro, interpretando Dona Nina, a Vitória. O filme, baseado em fatos reais, se passa em 2005 e relata a saga de uma aposentada que mora na Ladeira da Misericórdia, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e sofre as consequências de ser vizinha de uma favela.
A história é tão corriqueira que, contada assim, pode parecer sem graça, mas, pelo contrário, o longa, dirigido por Andrucha Waddington, ressalta a necessidade de uma segurança pública de qualidade, o combate à corrupção, à violência e às drogas. De forma sutil, outros pequenos núcleos são inseridos no mesmo enredo, como a velhice e a homossexualidade.
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Perto de completar cem anos, Fernanda mostrou que a idade não é um empecilho para atuar. Em muitas cenas, ela consegue misturar o drama e a comédia, arrancando suspiros e risos da plateia ao mesmo tempo. A atriz revela como a sociedade busca invalidar a pessoa idosa, e o silêncio do apartamento vazio torna as cenas fúnebres e doloridas.
🎞️ Enredo do filme
Da janela, Dona Nina acompanha diariamente a movimentação da favela, onde acontecem, tráfico de drogas, posse e porte ilegal de armas, abuso de menores e até homicídios. Ela não se furta: compra vários aparelhos de filmagem e entrega tudo à polícia, porque a própria força de segurança diz que precisa de provas. “Pronto, tá tudo aí, agora vai lá e prende esses caras. Eu filmei a cara de cada um deles”, diz Dona Nina ao entregar as fitas de vídeo à delegacia.
Dona Nina só consegue ser observada pela polícia quando tem o apoio de um jornalista investigativo, que ajuda a mudar o rumo da história. Uma das cenas marcantes é quando uma bala entra no apartamento dela, e outra é quando ela deixa uma xícara de café cair ao som do tiroteio. A personagem até tenta, durante todo o filme, consertar a louça, mas no final percebe que não há jeito.
As cenas com a xícara representam muito mais do que um simples conserto. Com outros olhos, a peça pode simbolizar a vida de Dona Nina, que, após várias tentativas, se vê chegando ao final e sem saída. Sem chorar, mas com a tristeza no olhar, Fernanda transmite a angústia, e no escuro do cinema, por vezes, se ouvem murmúrios.
🔴 ALERTA DE SPOILER
A personagem consegue desmontar o crime organizado em 2005, mas o filme tem um final um tanto quanto surpreendente. O longa está fazendo sucesso porque, 20 anos após a história real, ainda há muita gente vivendo no mesmo Brasil de duas décadas atrás, sofrendo com a corrupção na polícia, com as facções criminosas e sem qualidade de vida. E, ao contrário de Vitória, muitos não conseguem enfrentar o crime porque não conseguem enfrentar o medo e tudo o que ele traz consigo.